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25 abril 2012

Do amor.

Digeriu a pergunta com o sorriso terno de quem a esperava há uma eternidade. Reconheceu, nos grandes olhos verdes da neta, o mesmo medo que tanto a tinha assombrado, há mais de 50 anos. Endireitou os óculos, afastou-lhe os caracóis teimosos e pediu-lhe que se sentasse para escutar, à medida que ela própria procurava acomodar-se na cadeira que a viu fazer-se uma mulher como há poucas.

- Vais sentir-te plenamente preenchida e vais acreditar, com todas as tuas forças, que ele te vai fazer feliz para sempre. Vais pensar nele mal acordas e antes de te deitares e perguntar-te se com ele acontece o mesmo. Vais querer passar cada segundo do teu tempo livre com ele e sentir um vazio de cada vez que tiveres que o deixar. Vais sentir-te a pessoa mais protegida do mundo de cada vez que ele te abraça e a mais vulnerável de cada vez que, por qualquer razão, sentires que ele não está a ser tão carinhoso e doce como sempre foi. E vais perguntar-te se se passa alguma coisa, mesmo que ele te garanta que não. Vais ter medo e sentir-te insegura, não porque não confies, mas porque a vida se encarregou de pôr na tua vida algo tão valioso que o vais querer preservar com todas as tuas forças. E os teus olhos vão-se encher de lágrimas de cada vez que deres por ti a imaginar-te sem o sorriso e o carinho dele.

Vais cobrar aquilo que sabes que não deves, não porque queiras exigir demasiado dele, mas porque a vida te parece tão melhor quando estão juntos. Vais dizer coisas de que te vais arrepender no segundo seguinte e vais-te culpar de cada vez que tiveres consciência que foste injusta e que ele faz tudo por ti. Vais-te perguntar se estás a ser boa o suficiente e vais sentir um conforto imenso de cada vez que o olhares nos olhos e perceberes que, além de namorado, ele também é o teu melhor amigo. Vais-te orgulhar daquilo que construíram e vais dar por ti a pensar no quanto gostarias que ele pudesse vir a ser o pai dos teus filhos.

Vais rir à gargalhada das coisas parvas que ele diz e faz e acreditar que a vossa cumplicidade é caso raro. Vais ficar triste de cada vez que ele te magoar porque, mesmo que sem intenção, ele vai fazê-lo. E vais sentir-te a mulher mais feliz do mundo quando fizerem as pazes. Vais ter dias em que a vontade de o esmagares nos teus braços não te vai largar. Vais perguntar-te mil vezes se estão a caminhar na direcção certa e se estás a agir da melhor forma. E vais ter medo que, com o avançar do tempo, o encanto se perca e as coisas mudem.

Vai haver dias em que ele te vai irritar até mais não e outros em que, se pudesses, lhe oferecias o Mundo. Vais-te sentir invadida por uma amálgama de sentimentos de toda a espécie e vais achar que, às vezes, o amor é tanto que não te cabe no peito e que a falta que ele te faz quando estás longe é insuportável. E vai haver vezes em que vais pensar que preferias nunca te ter apegado assim, porque, quando se gosta tanto, o medo de que as coisas possam correr mal é avassalador e imaginares-te a esquecê-lo e a recomeçar tudo de novo te vai parecer um pesadelo pelo qual desejas, do fundo do coração, não ter que passar.

Mas não tenhas medo, princesa. No fundo, hás-de saber sempre que valeu a pena. Que gostar assim é um dom e que, ainda que tudo acabe, aprender a amá-lo foi a melhor coisa que te podia ter acontecido.


1 comentários:

Catarina disse...

Inacreditável... é isso tudo :')